domingo, 6 de setembro de 2015

A banana interdisciplinar

Foto de Marcelo Rosa. Fonte: NPDiário

Das bananas produzidas e comidas inteiras, os macacos, graças a uma sofisticada tecnologia, passaram a produzi-las de forma separada. Casca pelos especialistas em cascas; polpa pelos especialistas em polpas.
Disponibilizadas em separado, casca e polpa seriam, segundo a antiga ciência, melhor absorvidas.
Com o passar do tempo, porém, cascólogos e polpólogos, cada vez mais especializados, foram especializando da mesma forma seus produtos, a ponto de torná-los irreconhecíveis.
Por convenção, a banana prosseguia sendo o alimento indispensável aos macacos; na prática, porém, a fruta amarela e alongada, doce e aromática já não era mais consumida. Gerações mais novas não saberiam reconhecer uma banana se a vissem inteira - havia, inclusive, quem conspirasse contra a sua existência.
Cascas e polpas, separadas, enegreciam rapidamente - seu sabor e textura eram desagradáveis. Continuavam a ser ingeridas por obrigação, por falta de opção e por apatia.
Foi quando jovens símios dissidentes passaram a preferir outros frutos integralmente cascudos e polpudos. Investidos de uma nova e desconhecida energia, evadiram dos refeitórios públicos e tradicionais, recusando-se a comer o que lhes era diariamente oferecido em vasilhas separadas.
Polpólogos e cascólogos, despreparados para uma demanda que escapava a sua especialidade, foram demitidos. O desemprego assustou alguns macacos poderosos.
Das instâncias superiores, decretou-se: é eminente que a casca e a polpa da banana sejam novamente reunidas!
O rebuliço tomou conta da macacada: como retomar a antiga e esquecida banana a partir de sua casca e polpa? Mutadas ao longo de décadas e décadas, uma não se ajustava à outra. Seria preciso partir do zero, redescobrir a bananeira original, onde quer que ela estivesse, e voltar a cultivá-la.
Muito tempo seria dispendido na leitura de alfarrábios, para reencontrar a banana perdida.

Desmoral: enquanto isso, no fundo dos quintais, é possível vislumbrar algumas bananeiras. Seus cachos são consumidos despudoradamente e, ainda que deconheçam o nome desses deliciosos frutos, eles são de longe os preferidos pelas jovens gerações dissidentes.

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