segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sobre bananas emboloradas

Há muito tempo atrás, um macaco cego de fome engoliu uma banana com bolor e tudo. Imediatamente, percebeu que a vida fluía com grande prazer e que até mesmo as árvores dançavam de tanta alegria. Desde então, passou a não escolher mais bananas maduras e boas para o consumo, mas apenas as estragadas. Nenhum problema até aqui. O caso foi que os outros macacos não suportavam vê-lo mastigar iguaria tão nojenta e ainda obter disso alguma felicidade. As reclamações eram tantas que o Conselho Primata se reuniu e decretou a proibição do uso de bananas emboloradas como alimento. O pobre macaco se viu numa pior: não só passara a detestar as deliciosas bananas comuns, como não podia mais viver sem as deterioradas. Ficou tão doente que o Conselho o enviou para um tratamento médico.
Hoje ele está bem: a evoluída medicina símia conseguiu produzir um equivalente sintético do bolor presente nas bananas em estado de putrefação. Nosso querido parente já pode circular e comer junto aos outros, pois o equivalente sintético não só tem um aspecto muito agradável, como ainda exala um perfume inebriante, estimulando sua produção, seu consumo e - como não poderia deixar de ser - um comércio muito lucrativo.
Algumas caudas mais ousadas, porém, denunciam que o bolor sintético não apenas não se iguala ao natural, como vem exigindo, pouco a pouco, dosagens cada vez maiores para obtenção do mesmo efeito...
Desmoral: à macacada pouco importa o que e o quanto cada macaco consome, desde que mantenha a cara limpa.

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